As exigências do discipulado segundo Jesus

A exigências do discipulado segundo Jesus

Com essa terceira publicação já tivemos a oportunidade de conhecer um pouco da excelência do ministério de ensino do Jesus, bem como, uma rápida definição do que seria o discipulado. Sabemos que desde a primeira publicação adiantamos que faríamos uma abordagem a respeito dos elementos no ensino do Senhor Jesus que são meramente humanos. Mas, pedimos um pouco de paciência. É necessário, antes, compreender quais são as exigências do discipulado segundo Jesus.

Essas exigências aparecem implícitas no chamado de Jesus que se constitui no “Segue-me”, ou no “Vinde após mim” em algumas passagens registradas nos Evangelhos.

Na metade do Evangelho segundo Marcos nos capítulos 8, 9 e 10, Jesus é encontrado levando seus discípulos para uma jornada. Durante a peregrinação, Jesus está abrindo os olhos de cegos, levando-os através de um caminho que eles não conhecem. Esta jornada é o caminho do discipulado.i

O discipulado está ligado na ação da graça em razão da seriedade do processo: “A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende com alegria tudo quanto tem; a pérola preciosa, para adquirir a qual o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o governo régio de Cristo, por amor do qual o homem arranca o olho que o escandaliza; o chamado de Jesus Cristo, ao ouvir do qual o discípulo larga as suas redes e o segue… Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao homem, e é graça por, assim, lhe dar a vida; é preciosa por condenar o pecado, e é graça por justificar o pecador… A graça preciosa é a encarnação de Deus”.ii

Essa é a graça de Deus para os discípulos. É uma jornada a ser empreendida. Contudo, essa jornada é acompanhada de algumas exigências: obediência, arrependimento, submissão, compromisso e perseverança.

A palavra “segue-me” (akolouthéo) como em Mateus 9.9, está no imperativo, sendo, dessa forma, uma ordem. Por essa razão, aqueles que receberam a ordem de seguir a Jesus, obedeceram imediatamente.

Jesus chamou Mateus, como um pecador reconhecido. Todavia, a necessidade de arrependimento não é menos evidente nos chamados dos outros discípulos, pois o imperativo “segue-me” é imediatamente precedido pela mensagem “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 4.17; Mc 1.14).

Diferentemente dos rabinos, Jesus rompeu as barreiras que separavam os puros e os impuros, os pecaminosos e os obedientes. Chamou o cobrador de impostos que ficava fora da comunidade de adoração (Mc 2.14), assim como também chamou o Zelote (Lc 6.15), bem como o pescador (Mc 1.15ss). Ele chamou pessoas para segui-lo com a consequência de que deixaram o barco, a barreira de pedágio e a família, revelando um conhecimento surpreendente de sua missão.iii

Em um de seus mais importantes discursos a respeito do discipulado, Jesus ilustra o chamado como colocar um jugo “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossa alma” (Mt 11.29). A figura do jugo sugere muitas coisas. Todavia, a ideia principal é a submissão a Cristo na obra para qual foram comissionados. O jugo é também uma conexão entre submissão e sujeição. “Submeter” deriva-se de duas palavras latinas, sub (“sob”) e mitto, ou mittere (“colocar”). Dessa forma submissão significa colocar-se sob a autoridade de outrem. O vocábulo “sujeitar” também é derivado de duas palavras latinas, neste caso sub (“sob”) e iacto, actare (que significa “lançar” ou “jogar”). Significa ser colocado sob a autoridade de outrem.

A palavra jugo ainda remete a outras definições. Nos tempos antigos, era costume que quando um governante conquistava outro povo, estendia uma vara presa entre dois pilares, a mais ou menos um metro do chão, e obrigava o povo que havia sido capturado a passar por baixo dessa vara. Essa atitude simbolizava que o povo estava se colocando sob seu jugo, isto é, submetendo-se à sua autoridade. Quando Jesus emprega esta figura, está dizendo que o seguir é submeter-se a ele. É recebê-lo como Senhor de toda a vida.iv

O príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon, via o chamado “tomai sobre vós o meu jugo” como o seguinte significado:

Se você for salvo por mim, eu serei seu Mestre e você será meu servo; você não pode me aceitar como Salvador, se não me aceitar também como legislador e comandante. Se não fizer o que eu requerer de você, não encontrará descanso para sua alma.v

É impossível seguir a Cristo sem estar completamente comprometido com ele. A falta de compromisso significa desviar-se do caminho ou afastar-se dele. De igual modo, é impossível ter um compromisso com Cristo, se não houver o “seguimento”. A falha em segui-lo significa, na verdade, estar comprometido com outros interesses ou então, estar comprometido com outras pessoas.

Há quem diga que existem dois evangelhos sendo pregados. Um é o evangelho que exige somente a fé, o outro exige além da fé, um compromisso por parte do discípulo. A mensagem da fé somente, e a mensagem da fé acrescida da exigência de compromisso de vida não podem fazer parte do mesmo evangelho; portanto, uma delas é falsa e incorre na maldição de perverter as boas novas ou pregar outro evangelho conforme pode ser lido em Gálatas 1.6-9. Aqueles que adotam a primeira posição não negam que o compromisso em si seja necessário para o crescimento na vida cristã. Negam, entretanto, que o compromisso é primordial, no sentido de que não há seguimento sem compromisso. Não há discipulado sem compromisso.vi

Seguir a Cristo, não se constitui em um ato isolado. Não é uma atitude realizada uma vez e nunca repetida. O “seguimento” é um compromisso para a vida toda, que só será efetivamente cumprido na eternidade.

Isto significa que o discipulado não é somente uma porta de entrada, mas um caminho a ser seguido. O discípulo prova a validade de sua decisão seguindo até o final. O verdadeiro discípulo segue Jesus até o fim, em todos os sentidos.vii


i WATTS, R. E. Jesus, modelo pastoral: estudo do Evangelho de Marcos. Rio de Janeiro: Danprewan Editora, 2004. p. 21

ii BONHOFFER, D. Discipulado. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1980. p. 10

iii BROWN, C. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento – vol. I. São Paulo: Edições Vida Nova, 1984. p. 666.

iv BOICE, J. M. Idem, p. 23-24.

v Apud BOICE, J. M. Idem, p. 40.

vi BOICE, J. M. Idem, p. 25.

vii Idem, p. 29

3 Comments

  1. OLHA ESTOU DANDO UM CURSO DE DISCIPULADO AQUI NA MINHA IGREJA. SOU PASTOR DA iGREJA METODISTA EM GOVERNADOR VALADARES, MG JÁ COM 47 ANOS DE MINISTÉRIO. GOSTEI MUITO DE VER A LINGUAGEM E A CAPACIDADE DE VOCÊS COLOCAR AS VERDADES BÍBLICAS EM LIMGUAGEM SIMPES SEM PERDER A ESSÊNCIA. PARABÉNS. ABRAÇO REV. LUCIO MENDONÇA DA FONSECA

    • Olá Lucio!
      Ficamos alegres em saber que o irmão está gostando da nossa serie de publicações sobre o Discipulado segundo Jesus.
      Deus abençoe.

  2. Sou pastor no interior da Paraíba, Guarabira, tenho mais trinta anos de liderança e gostei muito deste material sobre discipulado, vou utiliza-lo na igreja, pois certamente preciso focar no discipulado para um crescimento constante e consistente da igreja. obrigado, a paz do Senhor Jesus

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